terça-feira, 8 de maio de 2012

Ensaio sobre a distração e outros deslizes


Isso é pra ser no mínimo questionável, pois quem me conhece sabe do meu apego ao desapego. Da minha inconstância, da valoração da liberdade e do poder ir e vir, do poder rasgar e soltar e nem sempre ter que voltar. Eu gosto de permissões comigo mesmo e isso basta[va]. Eu tinha um sério caso com questões de múltiplas escolhas e a vontade de não parar em nenhum lugar, igual aos verbos que passam de pronome em pronome, apegados à métrica e concordância. Então, num dia qualquer você percebe que algo está errado, que a vontade de parar em um lugar chega; quando você percebe que o mundo não é tão interessante o quanto mostram na MTV; você passa a considerar bom estar num só lugar, estar aqui, nesse mesmo lugar que o outro, seja pra cortar as suas unhas, seja pra falar do mercado financeiro, seja pra brigar por causa das mudanças climáticas ou do meu temperamento agridoce,e principalmente pelo [des]caso de estarmos a vontade de mais. É isso, apareceu à vontade de ficar, de usar as minhas garras, veneno e ácido pra proteger, só que em um só lugar e a uma só pessoa.

domingo, 18 de março de 2012

A demora do outro dia.



Tudo vai ficando velho lá fora, aqui dentro e em toda parte.
Certa vez me orgulhei de concordar com o vídeo do Luis Flavio Gomes: A esperança não combina com o sucesso! Mas dele, pra ser prático na minha vida, eu não arranco nada.

Dia desses vou acabar ganhando um “cuide da sua vida”. Aceitarei igual ao cuide dos seus pareceres”.

Bom, a minha vida não carece de cuidados, não tenho churrascos a ir, nem festas, não tenho palco pra brilhar.

Você sempre pediu que eu tivesse cuidado. E eu nunca entendi. Justo você, que sempre sabia o que fazer, acabou me pedindo pra ser melhor do que você foi. Não dá. Não tem como. Eu não consigo. Talvez também não queira... sabe, eu ainda te sinto bem perto. Tão perto e tão longe, que me confundo toda. Choro e riso. Cena clássica. É como se você estivesse aqui. Como sempre esteve. Onde deveria estar. Eu queria ouvir sua voz. Tenho medo de esquecê-la. Tenho medo da sua ausência. Tenho medo de não saber cuidar de mim e das tuas lembranças.

Isso é o meu pai!

Cuidar de si é algo que está sendo procrastinado pela pessoa [in]competente.

Nota pessoal cuidar de si é algo chato, incomoda pra caráleo. É como se o fato de ler Zaffaronni solucionasse os meus problemas. Grande ilusão!

Correr, dormir, ligar, ir atrás, reclamar, falar, pedir, implorar, brigar, desejar e pedir, no perigo enfrentar, qualquer coisa fugir, procurar, descobrir, decifrar, amarrar, impedir...

O mundo é daqueles que se levantam. Cuidar de si é sair do lugar. Procrastinar a espera apenas isso.

Eu só quero que você se cuide. Que faça um plano bom e o tenha pra você no plano prático.
Não seja como eu. Use a sua vida. Carpe diem.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Constelações.


Os ventos ocidentais frequentemente duram muito tempo

E quando eles se acalmam, nada é mais o mesmo

Abrigado sob a árvore de Kamani

Esperando a chuva passar, passou

As nuvens continuam se movendo para descobrir o mar

Estrelas acima de nós perseguem o dia, as nossas horas

Para encontrar as histórias que às vezes precisamos

E sermos apenas um só na nossa breve imensidão

Escute perto o bastante e tudo o mais se desvanece

Desaparece

E era apenas outra noite

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Sobre amar.




Pode ser irônico, sacal, seco, amargo ou qualquer coisa do tipo o que vou dizer aqui, mas amar é uma tremenda sacanagem com quem não opta por esse suplício.

Optar, escolher?! O que seria isso nesse mundo onde habita esse fragilizador de planos que é o amor.

De nada adianta se fazer forte, construir alicerces e planos, levantar toda uma fortaleza para esbarrar em ruínas, somos fracos a tal ponto que um cara passa do seu lado, te dá um sorriso e está tudo acabado. A sua vida não te pertence mais.

Os livros se tornam inúteis, os filmes repetitivos.

O francês, latim, inglês britânico, o espanhol? E as teorias?! Pra quê servem diante do poder corrosivo que detém o amor?

O amor te faz boba, fácil, tolerante.

O amor transforma o simples fato de o cara chegar, te beijar, em uma temporada em Passargada. O resto do mundo perece, acaba.

Eu não gosto do amor, dessa idéia de perder o controle da sua vida.

É isso e nada se pode fazer a não ser comprar analgésicos e opióides para curar qualquer coisa que cria, que dói. Porque dói, ninguém tem dúvidas.

As músicas passam a ser serenatas, as paisagens na estrada viram poemas.

A sua vida passa a ser a vida de outra pessoa.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Aniversário.



Amanhã é o meu aniversário!


Em outros anos eu encarava isso com bem mais caretice e inúmeros complexos de inferioridade. Parecia uma louca cobrando demonstrações públicas de afeto, querendo que a minha mãe me desse um presente extra caro [não bastava ser carinho tinha que ser extra caro], queria um grude, que todo mundo grudasse em mim. Isso passou, até a questão do grude!

Foram vários anos e passei por poucas e boas. Em um deles a mãe de uma amiga minha faleceu e isso me marcou pra sempre, eu lembro sempre e me sinto com o dever de virar anjo dela. A dor foi tão complicada porque enquanto eu compartilhava aquele sofrimento os meus amigos faziam brigadeiro, pipoca e jogavam PS no meu AP, no andar de cima.

Ano passado eu entrei o meu aniversário na casa de umas amigas, ganhei os presentes mais bizarros, tipo, muito bizarros: vela de papai Noel [mês de janeiro], pé de pimenta, cola maluca, uma caixinha de jóia sem a jóia...Foi tudo mágico! Bebi muito. Em meio a seis bilhões de pessoas liguei pra um idiota e disse que o amava, Ele disse "me too". Chorei por que queria o meu pai, a minha prima, também queria Elvys. E chorava mais ainda porque ainda tinha consciência pra perceber que eles não voltam.

Nesses anos fui acumulando muita coisa, não como uma "obstrução", mas como construção. Ninguém presta, todos são humanos e nojentos e isso me inclui. Acredito estar menos hipócrita e abstraindo mais o quê faz mal. Estou dando mais espaço pras pessoas me conquistarem.

E o amor? Aos 23 não amei. Isso me ensinou a respeitar o fim das coisas. Vi o outro lado que eu sempre julgava. Mas isso não fez de mim leviana. Não. Continuo planejando ter alguém pra eu cortar as unhas dos pés e que converse muito comigo, mesmo que isso demore!

Vejo muita responsabilidade em ter vinte e poucos anos. É como se estivesse incumbida da obrigação de construir o futuro com o tormento da saudade e tentação da irresponsabilidade do passado. Não me entenda mal, na juventude a minha responsabilidade [geralmente] esteve ligada à notas e atividades intra curriculares. Hoje, não só.


Os aniversários são mágicos, eles ficam matutando isso na sua cabeça o dia todo. O tempo todo!

Nesses anos eu vejo com mais clareza o significado de cada ligação, dos doces, dos abraços, das palavras, dos balões!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Intuição.


No início pareceu tormentoso ver dezembro ir embora tão bem e no findar desses dias tépidos implantar-se uma dúvida nos meus planos - dotada da covardia que costuma acompanhar as dúvidas. E tudo continuou bem não tendo estado em um trampolim de dúvidas; De algo que a fez questionar princípios, rever conceitos, de ser leviana de não agüentar a si e encher-se de álcool por não suportar-se naquele dia, um dos últimos dias.

Ela costuma usar o álcool para afastar-se de se, estar sã, inconsciente porque a ciência às vezes estraga o prazer, a vida. Mas naquelas horas nem o oráculo [criminólogo] a ajudou.

Ela parou para analiticamente poder ver as distorções das coisas que já são moldadas. E lamentou as desintenções que provocava tanta coisa. E ali haviam planos e estratégias tão simples, de fazer algo, apenas algo.

E nessa história entra tanta coisa importante além de uma achismo medíocre e uma crise de auto confiança. Isso passaria nas minhas costas. Implantava-se no doce dezembro tão cheio de travessuras a responsabilidade de opinar, de continuar ou parar.

Por horas a sinceridade dela esteve confusa e não dava espaço para a intuição. Não havia nada de grave até ali, a não ser o que fosse deixar de acontecer. Passou-se então a entender como os sonhos e projetos se desfazem, pelo medo irresponsável do pesadelo alheio, pela despadronização dos modos, dos laços, pelo desuso da intuição na era da nanotectonogia.

Então bebeu-se mais, foi pra longe, perdeu o sono. Reutilizou a intuição; o ver “dar certo” na perspectiva alheia e criar planos é algo muito sério. Ela percebeu isso. Percebeu-se que em meio a tudo isso havia uma ligação sadia e boa. Até hoje isso é unilateral, mas ela prefere acreditar nessa assertiva. Acreditar que algumas quedas fortalecem as vértebras. Que as razões são muitas vezes descabidas e que por medo ou preguiça deixamos de realizar.

E foi por algo tão antigo e abandonado que ela resolve continuar, a intuição.

Ela acredita que desde o início a intuição tem sido a base de tudo, e vai continuar assim, até onde for,em prol de algo que intuitivamente parece bom e importante. E quando tudo acabou e pronto. Ela respeita isso crendo que respeitar o fim das coisas trata-se de uma arte. E tudo vai bastar pelo que foi.

Ela não mudou de planos porque acredita no que via, na áurea da pessoa, acredita no bem e sem maldade insiste nisso sem medo dos contra- argumentos em demasias.

domingo, 1 de janeiro de 2012

2011



2011 a felicidade não esbarrou apenas em mim, mas em quem quis se encostar, tomá-la emprestada, compartilhar, em quem quis apenas sonhar. A felicidade passou de intensão, de papel de parede, de notas fiscais, rascunhos e contra fé. Ela esteve na hora do almoço, nas “três da tarde”, no tanque seco e nas luzes de neon. A felicidade esteve nas degustações de safras boas e ruins. Esteve nas terças feiras mágicas do nosso tempo. Ela esteve na nossa falta de tempo. Feliz se fez uma outra quinta feira sofisticada ao som de Dylan e Sinatra que me fizeram molhar os lábios ativos, tudo se fez.


2011 dançou no reggae, blues, tango e principalmente o meu preto rock’n holl, nele dançou-se muito. Sem se falar nos sábados de garoa sem sinfonia, das tardes de domingo cinzas e sem alegrias, mas sempre passaram como o moço do algodão doce, cantando.


E nas paredes de alecrim do Chile, Santiago e suas estupidez amareladas e sem o gosto da Dalí. Mas nada isso explica da minha vida que viajou rotinas diárias desse 2011 perfumado nas manhãs montanhosas e nas curvas sinuosas do medo confiante. E esses dias passaram mas teve adeus sem despedidas [e o melhor avô do mundo resolveu juntar toda família para sentir saudade]. Teve amor de adolescência que fez-se fim num acidente numa triste estrada. Teve amor que [pra variar] veio de longe só para provocar. 2011 também teve romance esnobe porque tem gente que ainda não aprendeu a amar.


E 2012?! Ah, a partir de hoje, tudo é propósito. Porque a partir de hoje há uns trezentos e sessenta e seis dias para escandalizar a falta de compromisso com o [des]caso. Porque a partir de hoje tudo é muito pessoal. Tanto, que Chico [o Buarque] já marcou para março seu pedido de desculpas por não ter comparecido em 2011. Já o desculpei pela ausência e prometi amor eterno. Sim, confesso: sou do tipinho que se envolve com planos breves de felicidade, ainda mais quando ela vem em terças-feiras musicadas, em gente disponível de verdade, em lugares que me permitam além da sala de estar. 2012, meu caro, seja suficiente, seja doce e imperativo para ser melhor que 2011.