sábado, 15 de outubro de 2011

Há quem diga que esnobar é exigir café fervendo e esperar esfriar...




Nada mais aprazível que uma visita a um supermercado numa madrugada de sábado pra domingo. Almejando aquela paz dentro do estabelecimento, poucos consumidores, caixas vazios, silêncio… tudo que você gostaria se a vida assim pudesse ser, todos os dias.

Embora estivesse visivelmente embriagada, mas ainda com alguns sentidos atentos, gozava de uma rara fluência no trato com quem estivesse em meu caminho. Fui benevolente ficando na fila sem reclamar. Tinha fome, comprei um pacote de pão integral, mostarda escura, salame e mortadela com picles. Uma garrafa de refrigerante para repor o açúcar e tudo mais – sendo que o mais era uma [ apenas ] garrafa de vinho barato.

Não eram nem cinco ou seis pessoas ali, afora segurança e alguns funcionários do estabelecimento. Nada poderia dar errado.

Um pobre diabo tentava passar seus cartões a todo custo em troca de miseráveis dois litros de leite, um pedaço de carne, pacote de pão e uma lata de atum. Não estava alterado nem nada, mas nitidamente frustrado por não completar o pagamento porque lhe faltava saldo no banco.

Uns quatro ou cinco adolescentes praguejavam atrás de mim, chamavam de vagabundo, mexiam com a caixa e faziam algo muito pior, enchiam o meu saco. Parei de prestar atenção na frente do caixa para dar conta do falatório no meu ouvido. O homem vai embora sem suas compras e com o olhar disparado pro vazio que é sua vida no meio da madrugada – acredito que durante o dia não seja diferente e talvez até muito pior.

Começo a passar meus produtos e a molecada praguejando, um com salgados outro com refrigerantes e energéticos e todo resto com biscoitos recheados. Maconheiros. Nada contra quem enche seu corpo de entorpecente, mas para quem não dá valor a sua saúde não tolero julgar a miséria do outro, principalmente de quem ainda trepa na casa do papai e pede para a mamãe limpar a bunda sempre que termina as suas necessidades. Assim é fácil julgar.

“Bela treta seria agora, meio da madrugada, eu aqui cheia de ódio dessa raça imunda que se tornou a juventude que aprendeu a ler numa rede social e volta pra casa bêbado sem ter pego ninguém na balada. Acho que dou conta de três, outros dois vão me bater a tempo do segurança do supermercado agir…”

Foi o pensamento que me ocorreu naquele instante em fração de segundos.

- São pessoas como você que tornam o mundo essa merda…
- Falou comigo?
- Então o imbecil escutou? Sim, falei com você mesmo – escolhi um alvo, a coisa agora era pessoal.
- E a doidinha ai de cabelo vermelho sabe tudo né?
- Sei mais do que você seu baby care.

Nesse momento um dos garotos alerta que a minha camisa tinha escrito Senhora [ Sargento] de Armas. É claro que nenhum deles nunca deve ter visto Sons of Anarchy e nunca vai entender a patente do personagem de Tig, braço direito de Clay Morrow numa versão feminina e tudo mais. Pararam de mexer comigo. Parei também de provocar. Gastei quase cem contos nas compras. Os moleques contavam moedas. Sai como se nada tivesse acontecido. Não olhei pra trás.

Chegando em casa me dei conta que fui tão fútil quanto eles. Poderia ter ajudado aquele pobre diabo nas compras em troca do meu bel prazer.

Viram como a gente precisa mesmo evoluir?

Pequenas adaptações de Old School

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