domingo, 27 de março de 2011

Ouvir você



A tua voz dizia que iria colocar Bob na mochila pra não esquecer de mim.

O meu sono, a tua voz...eu só queria que você falasse um bom dia.

Você só dizia: tchaw, beijo. Nosso perecido beijo de até mais.

Ele não dorme aqui por dentro, ele não morre por fora nessa vida errante.

Aquela voz me faz bem, é uma dádiva ainda a suportar.

Dádiva? É.

O universo é impreciso demais para dizer que amo alguém...

Mas ele faz com que os destinos se cumpram, é incrível.

Parece filme turco, cheio de promessas, a nossa vida!

Hoje eu percebi a frenesi das coisas do dia.

Você ainda é todo meu, quem me diz o tempo inteiro é
a tua voz.

domingo, 13 de março de 2011

Não ser

Continuando, vendo e tentado a cada dia fazer de você um pouco menos.

Eu não sei em que lado dualístico catalogo a esperança, se bem ou se mal. Ela que me faz tão mal quando abro as tuas palavras onde nunca estou presentes.

Dói sentir, que nunca consegui ser nada para você, ou coisa qualquer, é uma dor física mesmo saber que por mim, nunca se foi além, nem ali.

Chorar talvez me tornasse um pouco mais ridícula. Continuar me tornaria um pouco mais Dom Quixote [ já vivi isso].

Depois de não ser percebida, importada, de ser tão nada, não se queira mais nada dessa vida.
Vida de espasmos, euforias, efusividade e sons, onde tantas pedras rolam...

sexta-feira, 4 de março de 2011

Despedida

Ela decidiu ir até lá, estacionou o carro na praça central e pegou um táxi. Depois de um tempo pediu que o motorista parasse um pouco antes do combinado, seguindo a pé na rua mais deserta.
Foi preciso muita coragem pra estar ali novamente, naquela casa de portões tão largos e ostensivos.
Após dois minutos ele aparece no jardim, parecia sentir a presença dela.
-Posso entrar?- Ela indagou.
-Posso deixar... Você me ajuda a apanhar os jambos?
Aquilo era uma tentativa de esconder a angústia que habitava por volta das quatro da tarde.
Então ela responde:
- Acredito que seja apanhando jambos o melhor modo de te dizer o que me trouxe aqui.
-Ah, então dessa vez tem um motivo?
-Tem, acredito ser o último e único motivo que me traria aqui.
-Então não deveria ter vindo. Eu prefiro quando você não está aqui. Você não deveria estar em lugar nenhum.
Ela não esperava escutar estes desejos antes de começar a falar. Mas prosseguiu fingindo ser irrelevante aquele balbucio.
-Bom, mas eu estou, e em vários lugares, inclusive aqui, onde você também está.
-Dá pra falar logo de uma vez o que quer? Porque se veio falar de coisas que me façam perceber a merda que eu sou, pode se calar e ir embora. Você já me convenceu...
-Não. Vou me casar sábado e queria que você soubesse.
Aquilo parecia ser irrelevante diante da procura de um lugar pra sentar naquele jardim imenso. Mas ele voltou o olhar pra ela e os seus olhos pareciam gritar de dor.
-Por que veio me dizer? Achou mesmo que iria me importar com a sua vida? Faça o que quiser dela. De tudo, talvez eu vá lembrar que você existe quando encontrar uma reportagem policial em algum jornal de quinta.
-Vim te falar porque lhe respeito e acredito que agora esse suplício tenha um fim de verdade, com apenas um ponto final; Um fim contundente para nós dois.
-Você é louca. Acredita mesmo que é um ser superior a tudo... Eu não sinto nada por você, e a maior das suas loucuras é achar que existe algo ente a gente. Não há nada, é tudo fruto da sua imaginação tão fértil.
-Para! Eu não quero saber como você considera o que aconteceu entre a gente. Mas você é importante pra mim e é apenas por isso que estou aqui. – Não é fácil dar um rumo a sua vida e a outras vidas...
- Moça, eu espero muito que você não venha me trazer fotos dos seus filhos na parede da felicidade da casa que planejávamos ter...
-Não, não vou.
Dos olhos dele caiam lágrimas grossas e velozes e ele não fazia questão de escondê-las. Ela apertava os dedos olhando para o chão como se assistisse à dor que habitava no seu peito.
-Essa vida é uma merda! - Disse ele.
-Não, não é! A gente esqueceu-se de se amar.
O rapaz ergue a cabeça como se estivesse encontrado uma força súbita e fala quase sem conseguir, como se as palavras pesassem toneladas.
-Eu te amei muito, nunca te falei, mas acho que esse é o tempo que me resta pra dizer isso. Tenho inveja desse cara que vai cuidar de você, que os seus filhos vão chamar de pai...
-Só vim até aqui porque você ainda é a coisa mais importante da minha vida. Eu te amo e isso não cabe em mim, não caberia em você também, por isso acredito que será mais fácil a gente não ser nada, só existirmos separadamente.
Ele empurrava os pés na grama como se isso afastasse ou aliviasse alguma coisa.
-Vá embora e esqueça o meu nome, minhas músicas, as neuroses, esqueça que alguém riscou os seus livros, as suas pernas, e os seus seios com frases de amor. Esqueça tudo e não guarde nada.
- Vou tentar.
Ele levou as mãos até os cabelos e sussurrou ares de dores mortais, depois gritou:
-Vá embora, por favor.
O céu estava quase escuro, mas ainda foi possível gravar a imagem daquele fim de tarde cinza, deu pra fixar na memória aqueles olhos tristes que se afogavam nas águas dramáticas dos relacionamentos carnais.
Então, antes de sair na companhia de uma bolsa gigante ela ajoelhou-se e o beijou na testa, jurando amá-lo pra sempre.
Aquela tarde eternizou-se implantando a utopia de felicidade na vida daqueles dois seres demasiadamente humanos.