segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Não ter.





A vida não me deu a oportunidade de ter você. Ela não me deu oportunidade alguma.


E a cada vez que olho pra trás me dói no vazio de cada coisa que perdi, de cada sorriso teu, das tuas lágrimas, do teu medo, alegrias, da vida que eu não estava lá, ao seu lado como um par.

Isso tudo é apenas mais uma etapa das que eu pulo, saltos na vida os quais me engano com os meus livros onde me escondo e encubro os meus vazios naquelas teorias tão cheias de sentidos.

A vida não é minha amiga quando me mostra as tuas fotos, a tua vida tão distante da minha.

Estamos sob o mesmo céu, tão pertos e tão errados. A culpa não é de ninguém, é só da vida mesmo.

Então eu olho todas às vezes pros teus olhos e me vejo neles, além de alguns recantos da tua trajetória que me impede de seguir a minha, feliz; o verde infinito dos teus olhos me tiram apenas isso mesmo.

Muitas vezes eu quis te pegar pra mim, guardar num potinho, te abraçar pra sempre.

Muitos dias senti inveja dessa rua sortuda que te vê passar todos os dias.

Muitas horas me atormentam com o desejo de ser as paredes das cinco da tarde, estas que te recebem, que cuidam de você, do seu cansaço, das angustias, vitórias e derrotas.

Eu sinto, sinto muito.

E diante disso tudo eu só queria uma oportunidade de ser [mos], de algum dia poder dizer que somos nós. Que a vida seja menos travosa e amenize a comparação do meu não ser.

Eu quero força pra desgostar de você, pra não te ter por volta das quatro, do meu lado, de fazer você brincar de dar nome as coisas, comigo, de contar animais na estrada...

Eu quero forças pra suportar não te ter todas as manhãs “ao meu lado”, meu amigo, meu amante, tudo meu professor, meu aprendiz!

Você é tudo o que eu pedi a papai Noel no Natal de 2005, é o meu amor que gosta de cachorros.


Mas não é tão meu assim.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Tempo


Houve um dia em que sair pelas calçadas largas das ruas de Fortaleza abstraía grande parte da solidão de estar sozinha, sozinho, de estar a sós... E observar algum episódio da vida de pessoas, que eu não sei quem são, me fazia um bem danado, tudo isso por volta da vulgar três da tarde. Eu melhorava a ofegante angustia que me visitava com freqüência nos dias [sem] rotina.


Olhar amores e desamores; as pessoas brigam e muitas vezes estragam momentos hiper planejados e ensaiados, outras, nem percebem que esses momentos acontecem e deixam tudo desperceber. Eu ficava naquelas calçadas vivendo a vida dos outros por imagem e concluindo, através de camadas e camadas de hipocrisia, que o fato de eu ter com quem sair sábado a noite não excluía a minha solidão, aquele vácuo de ter alguém só pra ter alguém. Quando no meio de tudo isso Zeca Baleiro cantava ironicamente, com um exagero sacal, assim: “meu amor, minha flor, minha menina, solidão não cura com aspirina...”, pensei nisso e agi.


Mudei muita coisa, inclusive me desvesti daquela camada hipócrita que era a idéia de que eu não estava só. Fiquei só de verdade, mas encontrei o que fazer todos os sábados à tarde além de estudar embriologia e física quântica. E foi nessas tardes de sábados qualquer que encontrei uma palestra do Luiz Fernando Veríssimo pra ir e sem pagar nada. Isso foi sursis na minha vida!

domingo, 4 de dezembro de 2011

O dia de sair. Outra vez, sair.



Eu gostaria de escrever tudo isso de um modo impessoal e longe de um objetivo explicativo do que quer que seja, mas é difícil e embora seja possível eu não vou tentar. Era só um desejo em meio a um turbilhão deles [eventuais].
Hoje foi o dia de arrumar malas, desarrumar estantes, pegar em coisas guardadas para guardá-las [outra vez] em outros lugares.

O fim é sempre tenso e frio... Não por que acabou, mas porque é fim e tem que macular com o sentido da coisa.

Na tarde de hoje após um início de dia extremamente afável, aconchegante e cheio de amor familiar eu fui dar adeus para algumas paredes que foram por muitos dias as minhas únicas companheiras. Elas assistiram as minhas lágrimas, os meus lamentos, a minha solidão, o meu prazer, o meu desfazer...

Estive sempre abraçada a uma vida mística, mas vez por outra mergulhava no ceticismo mais avassalador que se possa desacreditar, e isso destruía qualquer suposição ou crescimento. Talvez sejam por essa razão que afirmo que essas paredes nunca me foram promotoras de sorrisos ou festejos, elas me faziam melancólica sempre que me rodeavam e o jardim tinha a mania de juntar a água da chuva sempre nos mesmos formatos.

As poças de água me lembravam um perder, o abandono das escadas daquele velho edifício encima da padaria, dos campeonatos de PS, das aulas de física e dos porres trilhado por Pink Floyd. Acontece. Abandonei aquelas paredes testemunhas de tantos sorrisos irresponsáveis e inocentes.

Essa casa que hoje eu dou adeus me fez perceber que naquelas outras paredes e escadas longas a minha força era bem maior. Embora eu não tivesse o meu cabelo vermelho a minha coragem era mais intensa. Ali se acreditava mais, amava-se mais, vivia-se mais. Ali se lia menos, dormia-se menos, importava-se menos.

Na verdade a intenção era abandonar tudo aquilo que misticamente não era doce nem sadio. E por mais que tudo nessa casa me pesasse muito, a sua partida também me pesou. Pode ser que pela ausência do querer lembrar. Ou melhor, pela a ausência de motivos que instigasse a lembrar qualquer paranóia. A não ser de um carro preto [sempre] parado lá na frente. A não ser, das palavras grossas que formaram o meu vocabulário por fim. A não ser a sensação de insônia nas despedidas e vontades de ver o mar.

A casa passou e ainda estou lembrando-se dela, do branco de cada parede, de cada porta e de cada fato. Lembrarei do branco e do breu da lacuna que essa casa me deu. [Dois anos se passaram].