segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sem nenhum motivo.



As razões se perdem pelo tempo que não foi. Pela lembrança que não é minha, pelo 'eu te amo' que não é meu.

Essa mania de chegar tarde me maltrata demais. Então eu vejo todas as experiências que você já teve, toda uma história, tudo, e eu queria.

Um natal, uma páscoa, um dia das bruxas, um dia dos pais, a noite mais fria do ano, uma pescaria, um domingo cinzento, o dia do amigo, aquele dia triste, uma praia, você, no meio de tudo isso! São desejos vãos que corroem pela sensatez de enxergar as impossibilidades. Muita coisa já se foi!

E são pelos olhos, apenas, que tudo isso existe. Nada há mais que o poder dos teus olhos para mover em mim qualquer músculo, sensação e calor. Dói por dentro e eu pareço ferro e me desmancho aqui com as palavras que é tudo o que resta.

Esperando que isso passe, que esse desejo desmedido de te ver, de olhar pro verde infinito dos teus olhos... Embriagar-me com a torpeza de não te ter. Sofrer? Talvez.

O meu corpo não consegue ter paz quando está próximo dele e eu invejo essa rua que te vê passar todos os dias. Sortuda a pessoa que te toca, que lhe beija, que te abraça. Sinceramente eu não entendo tudo isso porque há uma fogueira que me acorda e uma nuvem que me esfria.

Quero guardar esse sentimento devasso, avassalador, que não me pediu licença, que me tira do sério, que me tira de se.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

You Learn.



Eu recomendo ter o coração imune a qualquer pessoa, a qualquer tipo de pessoa.
Eu recomendo que você preserve a possibilidade de andar nua na sua sale de estar sem causar transtorno pra ninguém [sentir-se livre]
Eu recomendo estar bem e a engolir apenas o que é bom [cuspir o resto]
Eventualmente tudo acaba e o fim nunca é tão divertido quanto o início.
Eu recomendo sentir.

"Você vive, você aprende,Você ama, você aprendeVocê chora, você aprende,Você perde, você aprende,Você sangra, você aprende,Você grita, você aprende"

sábado, 15 de outubro de 2011

Há quem diga que esnobar é exigir café fervendo e esperar esfriar...




Nada mais aprazível que uma visita a um supermercado numa madrugada de sábado pra domingo. Almejando aquela paz dentro do estabelecimento, poucos consumidores, caixas vazios, silêncio… tudo que você gostaria se a vida assim pudesse ser, todos os dias.

Embora estivesse visivelmente embriagada, mas ainda com alguns sentidos atentos, gozava de uma rara fluência no trato com quem estivesse em meu caminho. Fui benevolente ficando na fila sem reclamar. Tinha fome, comprei um pacote de pão integral, mostarda escura, salame e mortadela com picles. Uma garrafa de refrigerante para repor o açúcar e tudo mais – sendo que o mais era uma [ apenas ] garrafa de vinho barato.

Não eram nem cinco ou seis pessoas ali, afora segurança e alguns funcionários do estabelecimento. Nada poderia dar errado.

Um pobre diabo tentava passar seus cartões a todo custo em troca de miseráveis dois litros de leite, um pedaço de carne, pacote de pão e uma lata de atum. Não estava alterado nem nada, mas nitidamente frustrado por não completar o pagamento porque lhe faltava saldo no banco.

Uns quatro ou cinco adolescentes praguejavam atrás de mim, chamavam de vagabundo, mexiam com a caixa e faziam algo muito pior, enchiam o meu saco. Parei de prestar atenção na frente do caixa para dar conta do falatório no meu ouvido. O homem vai embora sem suas compras e com o olhar disparado pro vazio que é sua vida no meio da madrugada – acredito que durante o dia não seja diferente e talvez até muito pior.

Começo a passar meus produtos e a molecada praguejando, um com salgados outro com refrigerantes e energéticos e todo resto com biscoitos recheados. Maconheiros. Nada contra quem enche seu corpo de entorpecente, mas para quem não dá valor a sua saúde não tolero julgar a miséria do outro, principalmente de quem ainda trepa na casa do papai e pede para a mamãe limpar a bunda sempre que termina as suas necessidades. Assim é fácil julgar.

“Bela treta seria agora, meio da madrugada, eu aqui cheia de ódio dessa raça imunda que se tornou a juventude que aprendeu a ler numa rede social e volta pra casa bêbado sem ter pego ninguém na balada. Acho que dou conta de três, outros dois vão me bater a tempo do segurança do supermercado agir…”

Foi o pensamento que me ocorreu naquele instante em fração de segundos.

- São pessoas como você que tornam o mundo essa merda…
- Falou comigo?
- Então o imbecil escutou? Sim, falei com você mesmo – escolhi um alvo, a coisa agora era pessoal.
- E a doidinha ai de cabelo vermelho sabe tudo né?
- Sei mais do que você seu baby care.

Nesse momento um dos garotos alerta que a minha camisa tinha escrito Senhora [ Sargento] de Armas. É claro que nenhum deles nunca deve ter visto Sons of Anarchy e nunca vai entender a patente do personagem de Tig, braço direito de Clay Morrow numa versão feminina e tudo mais. Pararam de mexer comigo. Parei também de provocar. Gastei quase cem contos nas compras. Os moleques contavam moedas. Sai como se nada tivesse acontecido. Não olhei pra trás.

Chegando em casa me dei conta que fui tão fútil quanto eles. Poderia ter ajudado aquele pobre diabo nas compras em troca do meu bel prazer.

Viram como a gente precisa mesmo evoluir?

Pequenas adaptações de Old School