domingo, 4 de dezembro de 2011

O dia de sair. Outra vez, sair.



Eu gostaria de escrever tudo isso de um modo impessoal e longe de um objetivo explicativo do que quer que seja, mas é difícil e embora seja possível eu não vou tentar. Era só um desejo em meio a um turbilhão deles [eventuais].
Hoje foi o dia de arrumar malas, desarrumar estantes, pegar em coisas guardadas para guardá-las [outra vez] em outros lugares.

O fim é sempre tenso e frio... Não por que acabou, mas porque é fim e tem que macular com o sentido da coisa.

Na tarde de hoje após um início de dia extremamente afável, aconchegante e cheio de amor familiar eu fui dar adeus para algumas paredes que foram por muitos dias as minhas únicas companheiras. Elas assistiram as minhas lágrimas, os meus lamentos, a minha solidão, o meu prazer, o meu desfazer...

Estive sempre abraçada a uma vida mística, mas vez por outra mergulhava no ceticismo mais avassalador que se possa desacreditar, e isso destruía qualquer suposição ou crescimento. Talvez sejam por essa razão que afirmo que essas paredes nunca me foram promotoras de sorrisos ou festejos, elas me faziam melancólica sempre que me rodeavam e o jardim tinha a mania de juntar a água da chuva sempre nos mesmos formatos.

As poças de água me lembravam um perder, o abandono das escadas daquele velho edifício encima da padaria, dos campeonatos de PS, das aulas de física e dos porres trilhado por Pink Floyd. Acontece. Abandonei aquelas paredes testemunhas de tantos sorrisos irresponsáveis e inocentes.

Essa casa que hoje eu dou adeus me fez perceber que naquelas outras paredes e escadas longas a minha força era bem maior. Embora eu não tivesse o meu cabelo vermelho a minha coragem era mais intensa. Ali se acreditava mais, amava-se mais, vivia-se mais. Ali se lia menos, dormia-se menos, importava-se menos.

Na verdade a intenção era abandonar tudo aquilo que misticamente não era doce nem sadio. E por mais que tudo nessa casa me pesasse muito, a sua partida também me pesou. Pode ser que pela ausência do querer lembrar. Ou melhor, pela a ausência de motivos que instigasse a lembrar qualquer paranóia. A não ser de um carro preto [sempre] parado lá na frente. A não ser, das palavras grossas que formaram o meu vocabulário por fim. A não ser a sensação de insônia nas despedidas e vontades de ver o mar.

A casa passou e ainda estou lembrando-se dela, do branco de cada parede, de cada porta e de cada fato. Lembrarei do branco e do breu da lacuna que essa casa me deu. [Dois anos se passaram].

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